sábado, 31 de outubro de 2009

Tibúrcio para presidente


Marcelo Tas, que vai lançar um livro sobre Lula, revela que já votou em todos os partidos

Desde que o programa CQC estreou no ano passado, Marcelo Tas se viu mais uma vez envolvido com o mundo da política, coisa que cansou de fazer com seu personagem Ernesto Varela. Tirando sarro principalmente de políticos e da política, ele desconsidera o espectro ideólogico e faz piada com com todos os partidos e coligações. A um ano das eleições presidenciais, Tas lança um livro de humor no qual lista e analisa frases do presidente Lula, chamado Nunca antes na história deste País - As frases mais engraçadas e polêmicas do presidente Lula (comentadas por um especialista no assunto). Apesar de reconhecer que lançar um livro sobre o mais famoso dos petistas pode gerar desconfianças sobre sua posição a respeito de Lula, Tas diz não ligar e diz que é “a favor do contra”

Talvez sendo sincero, talvez ainda incorporado à sua persona humorista e tirando um sarro do repórter, Tas revelou à Trip em quem votou nas últimas eleições para senador, disse que o nosso presidente não precisa de Duda Mendonça, afirmou que seu maior orgulho foi nunca ter participado de campanha política e que é do Professor Tibúrcio que o Brasil precisa.

Nesse seu novo livro, você identifica vários papéis que o presidente Lula vem desempenhando durante o seu mandato.Quais papéis você vem desempenhando ao longo da sua vida?
[Risos] Acho que é o mesmo sempre, que é espírito de porco. O meu papel é a favor do contra. Eu me permito seguir os passos de um dos meus mestres, que é o Chacrinha, que dizia: "Eu não vim para explicar, mas para confundir". Nunca tive, por exemplo, atuação partidária e tem muita gente que acha que eu sou petista e me xinga por isso, e tem muita gente que acha que eu sou tucano. Tem muita gente que acha que eu me filiei ao Democratas, porque eu vou dar uma palestra na convenção nacional deles. Meu papel é esse: tenho um pensamento livre e isso incomoda muito. Estou sempre na mídia e as pessoas criam milhões de fantasias que o jornal "A" é de direita, o "B" de esquerda. Como eu já passei por todas elas e continuo a exercer o meu espírito de porco, as pessoas ficam confusas.

Mas sobre o que você vai falar numa convenção do Democratas?
Vou falar sobre redes sociais. Eu acho que os Democratas estão corretíssimos de me contratar para falar disso. O meu cachê com eles não é diferente do que eu pedi para a Microsoft, onde eu falei na semana passada. Ou até na TV Globo, fui essa semana falar para os funcionários de lá. Não quero fazer um auto-elogio, mas acho que o Democratas foram muito inteligentes em me contratar porque todos os partidos deveriam estar me contratando, tem eleição chegando aí e a internet vai ser importante. Vou dar dicas preciosas para eles.

"Não viemos aqui só para fazer piada, viemos para tentar entender o Brasil"

Não pode causar um certo mal-estar ficar perto de políticos de quem você tira sarro no CQC?
Não, o mal-estar pode ser por estar com os Democratas, mas eu não vou mudar o meu jeito de ser. Acho que eles me conhecem suficientemente bem. Pelo contrário, acho que esse ano o CQC finalmente conseguiu se diferenciar; pratica a irreverência, mas a gente também é veículo de comunicação que fala com uma parcela importante da juventude. Aí, passamos a ser mais respeitados por isso. Não viemos aqui só para fazer piada, viemos para tentar entender o Brasil. É aí que entra esse jeito de olhar para a política, que é um jeito livre, irreverente, e acredito que seja também eficiente, a gente consegue se comunicar muito bem, principalmente com os jovens.

Os políticos reclamam?
Aí é um problema deles [risos]! Eles podem reclamar para o bispo se eles quiserem. Eu tenho tranquilidade da ética do CQC. Posso responder para qualquer um deles que se sentir agredido. Eventualmente, podemos até errar porque estamos muito próximos do limite da ousadia, mas não praticamos a manipulação nem o partidarismo. "Ah, vamos acertar o Lula porque a gente gosta do Serra, ou vamos acertar o Serra porque a gente gosta do Lula", a gente não tem esse compromisso.

Por que o Lula?

Porque o Obama me disse que ele é o cara. Uma coisa me impulsionou muito a fazer esse projeto. O Marcelo Duarte da [editora] Panda Books, me procurou com uma pastinha cheia de frases do Lula para ver se dava para fazer um livro. Achei meio óbvio. Comecei a procurar coisas sobre o ele e encontrei um livro da Denise Paraná, Lula, o filho do Brasil, onde foi baseado o filme. Esse livro é espetacular, pouco conhecido. É um livro acadêmico, mas ótimo para quem se interessa pelo presidente. Conta-se ali uma história que ninguém conhece sobre o Lula. Fiquei pensando, “um cara que está na mídia há 35 anos e as pessoas não conhecem a vida dele”. Isso abriu meu apetite para fazer o livro. Muitas das frases do meu livro são do livro da Denise, são frases inéditas. Ali, eu encontrei uma coisa paradoxal: um cara que está todo dia rodeado de microfones e tem uma história muito pouco abordada. Ele mesmo é responsável por isso, o Lula é muito tímido, veja você. Acabei descobrindo isso. Ele é tímido, inseguro, só fala em condições em que tem extremo controle sobre a mídia, ele gosta de discursar. Retalhei ele em várias personalidades: são dez capítulos, dez personagens que ele assume, na minha visão. Um deles é o marqueteiro. O Lula é extremamente marqueteiro dele mesmo. Nessa história, ele diz coisas que faz você entender muito bem que ele não precisa de um Duda Mendonça, ele é o Duda Mendonça. Em cada capítulo eu descrevo porque ele tem cada um desses personagens dentro dele. Depois, vou pontuando em cada frase porque ele falou aquilo. Na verdade, ele ama dar entrevistas, só não gosta da parte em que ele tem que ouvir a pergunta [risos].

"O Lula é extremamente marqueteiro dele mesmo. Ele não precisa de um Duda Mendonça, ele é o Duda Mendonça."

Você já entrevistou o Lula?
Já. Entrevisto ele desde 83, como [Ernesto] Varela na primeiro comício das Diretas Já. Ele sempre foi muito “sabonete”, desde a primeira entrevista. A gente sempre corre atrás do Lula, eu e todo mundo, e nunca rende uma boa entrevista. Quem fez uma boa entrevista com o Lula? Não existe.

É um livro de humor ou política?

As duas coisas. O eixo da minha atuação envolve política e humor desde sempre. Por duas razões: não sei fazer de outro jeito e acredito que o humor é uma ferramenta muito eficiente de comunicação. Se você consegue produzir material jornalístico com humor, você atinge muito mais gente, inclusive crianças, que é o que está acontecendo com o CQC. Você amplia o grau de entendimento do que você está querendo transmitir porque o humor te obriga a ser sintético, a não subestimar a inteligência do interlocutor. Você usa uma série de coisas - sátira, imagens, segundas intenções - que são muito mais sofisticadas do que um texto linear, imparcial, um tipo de jornalismo mais tradicional.

Qual é a sua frase favorita do Lula?
Tem um capítulo que é “Lula Ser Humano” porque ele é humano, demasiado humano, como diz o Nietszche, o filósofo. Tem uma frase que é imbátivel: “Minha mãe é uma mulher que nasceu analfabeta”. É insuperável. Ninguém consegue fazer uma frase melhor do que essa.

E como você analisa essa frase no livro?

Eu digo: “Presidente, a minha também!”. Inclusive desdentada, uma mulher que nasceu com fome, chorando, toda mijada. Ele tem a capacidade de falar as coisas dele como se fossem extraordinárias, essa frase revela muito isso. A “minha” mãe nasceu analfabeta, só a dele, a sua não.

Com as eleições se aproximando, você não tem medo de esse livro ser interpretado como apoio ou tentativa de prejudicar o presidente?
Medo nenhum. Eu convivo com isso diariamente. Cada vez que o CQC vai para o ar, eu recebo dezenas de e-mails, uma parte achando que a gente foi favorável, outra achando que a gente tem algum esquema para favorecer alguém. Neguinho vai ralar o cérebro para tentar entender se eu sou a favor ou contra o Lula. O José Simão escreveu o prefácio do livro, e ele escreve tudo de uma vez. Ele me ligou e disse: “Eu vou escrever agora, mas eu tenho que te fazer uma pergunta. Você quer um prefácio contra ou a favor?” [risos]. Eu disse: “Simão, a favor do contra” [risos].


Você tem lidado com a política usando personagens, mas e suas crenças políticas pessoais? Como você lida com a contradição entre interpretar personagens que tiram sarro de tudo e ter que escolher um candidato de frente para a urna?

Concordo com você. Na televisão, a gente tem que criar uma persona até por uma questão técnica, você tem que falar de um jeito que você não fala em casa. Eu não vou chegar em casa e dizer “olha isso!”. Mas as minhas crenças estão em tudo o que eu faço. Brigo muito com a mulher na hora de votar. Temos brigas homéricas porque ela tem uma tendência mais à esquerda, o que não quer dizer que eu tenha tendências mais à direita, mas eu tenho gosto pelo debate. Eu já votei em todos os partidos que existem neste país, posso te garantir.

Inclusive nos mais de direita?

Votei intencionalmente. Vou te revelar o meu voto.
Votei no Democratas, votei no [Guilherme] Afif. Acho que eu fui o único. Mas votei puramente para sentir aquele gostinho de apertar a urna e sair ali “Democratas” e falar “sim”.

Por favor!
Vou te revelar, eu não tenho problema nenhum em ser massacrado. Inclusive, eu nunca fiz campanha política, o maior orgulho do meu currículo é esse. Já recebi ofertas estratosféricas. O primeiro trabalho grande da Olhar Eletrônico foi fazer o programa político do PT, que foi dirigido pelo Fernando Meirelles, o primeiro programa político do Brasil. Me recusei a fazer. Então eu posso falar em quem eu voto, mudo de voto toda eleição. Já votei até no Genoino, acredite. Já cometi esta loucura [risos]!. Nas últimas eleições fiz questão de não votar no Suplicy, por exemplo, porque eu acho que chega uma hora em que o cara vira Padre Cícero. Votei no Democratas, votei no [Guilherme] Afif. Acho que eu fui o único. Mas votei puramente para sentir aquele gostinho de apertar a urna e sair ali “Democratas” e falar “sim”. Para mim acabou essa bobagem que tem um partido maravilhoso, o PT, e que os outros são uma porcaria. Finalmente a gente se libertou disso. E a gente só vai se libertar no dia em que entender que a sociedade é maior do que os partidos. Nós fazemos as coisas apesar do governo, não por causa do governo.

Se você tivesse que concorrer à presidência com algum dos seus personagens, qual você escolheria?
Não tenho nenhuma dúvida de que seria o Professor Tibúrcio. O Brasil precisa do Professor Tibúrcio na presidência!

A linha de governo dele seria voltada para que?

Para a educação, evidentemente [risos]! A educação autoritária, com régua na cabeça de quem não aprender [risos]! Com tudo isso que eu já fiz, percebo que a maior lembrança que as pessoas têm é do Professor Tibúrcio, é incrível. O Tibúrcio é onde talvez eu tenha incorporado o mais próximo de mim mesmo.

Vai lá: Nunca Antes

Fonte:Trip

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