segunda-feira, 24 de maio de 2010

Adorável vagal



Livro que já despertou a fúria de alguns pais e atraiu olhares atentos de outros tantos adolescentes, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola - Manual Completo, Ilustrado, Revisado e Não Recomendado para Estudantes (Panda Books, 165 págs., R$ 22,60) é a primeira obra do andreense Danilo Gentili.

Politicamente incorreto, o livro desperta o riso a cada página, que recebe ilustrações feitas pelo próprio autor (afinal os anos de rabiscos nos cadernos precisavam um dia servir para algo) e textos que mostram como ser o estudante mais bagunceiro do colégio.

São 23 lições de quem tem muita bagagem. Só para ter uma ideia, Gentili diz somar 78 assinaturas no livro negro, 12 suspensões e uma expulsão no histórico escolar.

Entre as lições, estão colar na prova, copiar o trabalho da internet, dormir na sala de aula, criar uma doença convincente e colocar apelidos nos colegas.

Também merece destaque o projeto gráfico da obra, que teve o cuidado de até reproduzir manchas de gordura em algumas páginas, típicas de quem come enquanto escreve ou, nesse caso, só desenha no caderno.

DIÁRIO - Como encarou a recomendação do Ministério Público de acrescentar na capa um alerta de leitura inadequada para menores de 18 anos?

DANILO GENTILI - Acho que o meu livro é o primeiro do País que é proibido paro o seu público alvo. Mas eu gostei, pois o público alvo do livro adora comprar coisas proibidas.

DIÁRIO - Houve reações de outros pais ou aquele que enviou uma carta ao MP, pedindo retratação, foi um caso específico?

GENTILI - Sim. Outros pais reagiram. Há pais que me param na rua e dizem que
compraram (a obra) para o seu filho e dão risada. Pais irresponsáveis como o autor do livro.

DIÁRIO - Em pré-venda, em dezembro, o livro já estava bem procurado. Acredita que a obra fomenta o analfabetismo funcional no Brasil?

GENTILI - Se o meu livro na pré-venda foi um dos mais vendidos, então é sinal de que na verdade estou propagando o alfabetismo, a não ser caso fosse um livro só com figuras. Além do mais, tenho certeza que o aluno que ler o livro vai pregar as peças na escola, o que prova que ele teve ótima interpretação do texto e não é um analfabeto funcional.

DIÁRIO - Você reproduziu no livro rabiscos feitos nos cantos dos cadernos. Geralmente, um aluno baderneiro não guarda os cadernos.

GENTILI - Eu mesmo fiz os desenhos. Um aluno bagunceiro realmente não guarda os cadernos, mas os rabisca inteiros antes de perdê-los.

DIÁRIO - Sua bronca parece ser contra o sistema de ensino, concorda?

GENTILI - Eles também sempre pareceram ter bronca de mim. (por que será?)

DIÁRIO - Você pode ser avesso à educação formal, mas deve ser chegado em leitura. O que gostava de ler quando criança, adolescente e hoje?

GENTILI - Leio as coisas que me escrevem no MSN como por exemplo: ‘Não, não vou tirar a roupa na webcam para você''.

DIÁRIO - O que te motivou, durante a escola, a ser o pior aluno?

GENTILI - Nada. Foi natural. Acho que é um dom. Eu nasci com isso.

DIÁRIO - É possível fazer humor sem transgredir? E sem ser agressivo?

GENTILI - Se for possível, mudo de profissão porque não será nem um pouco divertido ser humorista.

Trechos
"Não colar não faz sentido. Se alguém escreveu um livro, é para ser consultado pelas futuras gerações. O autor deve ficar pê da vida ao saber que os professores nos impedem de consultar a obra no momento em que mais precisamos dela: na hora da prova." (pág. 19)

"A escola tem algo de errado. O professor (mais velho e estudado) faz as perguntas, e os alunos (mais novos e sem conhecimento) têm de dar as respostas. Pela lógica, deveria ser justamente o contrário, certo?" (pág. 26)

Hoje, a internet e a impressora revolucionaram a vida do aluno vagal. Você não precisa mais fazer trabalho olhando para a cara enrugada da bibliotecária em silêncio." (pág. 34)

Fonte:Diário do Grande ABC

Nenhum comentário:

Postar um comentário