segunda-feira, 17 de maio de 2010

Rafinha Bastos fala da jornada dupla na TV e diz 'sou cara de poucos amigos'

Comediante, que tem que se dividir em dois programas de televisão, diz que se sente feliz pelo trabalho porém também fica exausto.



Rafinha Bastos sempre relacionou trabalho a prazer. Inclusive quando, bem antes de "CQC" e o novo "A liga" entrarem no ar, o comediante gaúcho deu expediente em uma empresa de telessexo, em São Paulo.

- Era o canal adulto de uma empresa de telefônica. As pessoas ligavam e ouviam histórias e diálogos, de dois minutos. Era engraçado porque a gente gravava roteiros hétero e homossexual. A gente tinha que gemer e dava muita risada. E eu ganhava superbem: R$ 150 por hora. Gravava uma vez por semana, cinco historinhas por dia, e pagava o meu aluguel - lembra Rafinha. - Você tem que ter bom humor para fazer qualquer coisa.

Ainda no repertório de trabalhos feitos com prazer - e bom humor -, ele vendeu pinheiros de Natal, fez pegadinhas do programa da Luciana Gimenez e trabalhou em um supermercado vendendo camisetas personalizadas.

- Eu sou comediante - ele explica. - Tudo o que faço, seja no "CQC" ou nas histórias de sexo, tem a minha personalidade. Se acho que o trabalho realmente não combina comigo, não faço. Já neguei muita coisa na televisão. Eu não sou palhaço. Acho divertidíssimo quem é, mas isso não é parte do meu humor. Meu humor tem um pouco mais de sarcasmo e, às vezes, não é tão sutil.

Foram exatamente essas características que chamaram a atenção do argentino Diego Barredo, diretor de "CQC" e de "A liga", quando ele decidiu escalar o barbudo para integrar o elenco dos programas da Cuatro Cabezas na Band.

- Vimos que a escolha dos CQCs não estava na TV e fomos a shows de stand-up. O Rafinha, que já bombava no palco, foi o primeiro CQC brasileiro escolhido - revela Barredo. - Desde o começo, ele faria o "Proteste já" (quadro de denúncia do "CQC", no qual políticos e empresas são os alvos). E quem fizesse o "Proteste já" faria "A liga", pois são perfis similares, há um tipo de relato vivencial. Então, ele também foi o primeiro indicado para "A liga".

No ar desde o último dia 4, "A liga" tem apresentação, narração e reportagens de Rafinha, que divide as pautas investigativas com Débora Villalba, Rosanne Mulholland e Thaíde. Mais de dez anos depois de ter se formado em jornalismo na PUC-RS, ele confessa que fazer o programa lhe dá a sensação de "dever cumprido".

- Não quero me limitar a ser um jornalista sério, nem a ser um comediante. Os dois programas não se complementam como tais, mas me completam como profissional - analisa.

"Não faço TV para ser paparicado. Faço porque é um veículo fascinante. Sempre quis me comunicar com muita gente "

A dupla jornada, aliás, tem deixado o apresentador de 33 anos feliz e...exausto.

- Eu praticamente não durmo mais. Nas últimas semanas, saí do do "CQC" e fui gravar "A liga" na madrugada. As produções dos dois programas já estão tendo que desmembrar a minha madrugada!

Já suas manhãs, pelo menos quatro dias por semana, são ocupadas pelo "Proteste já", seu xodó:

- Eu realmente me envolvo. Já ouvi muitas frases como: "Você não sabe com quem está se metendo" ou "Eu sei onde você trabalha". Não quero passar a imagem de que sou o cara mais corajoso do mundo. Sou apenas um intermediador. Sempre tive vontade de cobrar das autoridades, e hoje posso fazer isso com a câmera de um programa conhecido.

Rafinha também gosta de causar (ou seria chocar?) na bancada que divide com Marcelo Tas e Marco Luque nas noites de segunda. Na passagem do roteiro, quando surge uma piada com tintas mais carregadas, ele chama a responsabilidade para si.

- Não gosto de chocar, mas gosto de brincar com esse limite estabelecido. Gosto de me colocar como o cara que tem liberdade de falar o que pensa. Quando alguém fica com pé atrás de falar alguma coisa porque é amiguinho de fulano, pego para mim e faço com prazer - diz ele.

Empenhado, Rafinha tenta respeitar a lista de nomes judicialmente proibidos de serem citados.

- Mas às vezes falo e às vezes cai processo. Já fui ao tribunal. É o preço de se fazer humor sem preconceito - pondera. - Na Band, posso fazer isso. Não fecho portas, mas pelas coisas que eu digo, não me vejo em uma emissora como a Globo.

O seu primeiro trabalho na televisão foi como produtor de um telejornal da Manchete, em Porto Alegre. Depois, apresentou um programa jovem, na TVE, e produziu outro sobre tecnologia na RBS. Nesse meio tempo, virou bicho de internet. Em 1998, quando morava nos EUA e jogava basquete universitário (o cara tem 2 metros de altura!), lançou a "Página do Rafinha", que virou hit na web. Não é de se espantar, portanto, que ele já tenha sido eleito o twitteiro mais influente do Brasil, segundo o Twitter Rank, que mede a popularidade dos perfis do microblog. Em março, ele ficou em primeiro lugar seguido por Ivete Sangalo e por Marco Luque.

- Ou seja: qual o valor disso? - desdenha. - Ranking não serve para nada. Só posso dizer que fico feliz em poder fazer TV e ter um link grande com o meu público através do meu Twitter.

Rafinha tem mesmo discurso e pose de marrento.

- Não tenho tempo e não gosto de fazer social. Não faço TV para ser paparicado. Faço porque é um veículo fascinante. Sempre quis me comunicar com muita gente - afirma - Sou uma pessoa de poucos, porém bons amigos. No "CQC", o Danilo Gentili é o cara mais próximo de mim. E Oscar Filho, com quem trabalho no Clube da Comédia.

Danilo sai em defesa do grande amigo - e futuro sócio. A dupla vai se lançar no ramo dos negócios com a inauguração de um comedy club, bar que mistura cerveja e comédia, em São Paulo.

- Rafinha é autêntico. Às vezes as pessoas acham que ele é grosso, arrogante, metido. Ele não é grosso, ele é gaúcho - resume Danilo, que segue a falar. - Outro dia ele brigou com a vizinha porque ela chamou os cachorros dele (dois pugs, o Walmor Chaguinhas e a Dercy) de feios. Ele defendeu os filhos, que são a cara dele, mas depois pediu desculpas. Ele tem bom coração.

Fonte:O Globo

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