Há certos fenômenos de massa que oscilam do engraçadinho para a saturação. Essa apurrinhação com as vuvuzelas na Copa do Mundo é, muito provavelmente, um deles.
Olha, nem mesmo numa festa como a Copa, ninguém merece um bando de gente assoprando numas cornetinhas irritantes o tempo todo. O ruído é tão ensurdecedor que já não se ouvem mais os divertidos refrões das torcidas, pois tudo é abafado por um zunido aplastante. Até a narração dos jogos fica em parte comprometida. Fico imaginando o que não passam os repórteres e narradores para tentar se comunicar com o público, a sua dificuldade de concentração, etc… Aí fica todo mundo dizendo que é engraçadinho. Mas, na verdade, é retardado. Podia ser música, batucada, piadinhas de massa. Mas é só um zunido interminável e tonitroante, que a tudo o mais abafa.
Não estou lá na África, mas, para mim, a única mensagem que isso passa é a de uma massa cuja voz foi sufocada por tanto tempo que agora não sabe mais como se comunicar coletivamente, a não ser pela imposição a todos os outros desse zumbido sem noção. É uma pena que isto esteja sendo identificado como a marca da Copa. Tomara que esse espasmo possa servir como um grito coletivo de libertação da voz e, depois disso, algo mais elaborado emirja.
Igualmente chatas são as piadinhas infelizes sobre vuvuzelas, que não param. Todo mundo só fala nisso (até eu!). Ontem até o divertido Marcelo Tas, no CQC, para anunciar uma entrevistinha rápida com a Shakira, disse algo assim: “Vamos ver a vuvuzela da Shakira!” E, depois, perguntou a um de seus auxiliares que estão na África, algo assim: “Você já assoprou/ beijou a vuvuzela de um negão?” Ai, ninguém merece! Foi tão idiota que até ele disse que ninguém mais agüenta piadinha de vuvuzela.
Outra palavra que eu não agüento mais ouvir é COMBO. De tempos em tempos, o povo adota algum estrangeirismo novidadeiro e fica por aí repetindo o troço à exaustão. O tal COMBO foi encampado maciçamente pela publicidade e pelo comércio. É enervante. Tudo é COMBO: a internet, o celular, a pizza… Outro dia, perdi a conta de quantas vezes ouvi a palavra COMBO num vôo da Gol na hora em que os comissários de bordo se puseram, desajeitadamente, a vender sanduichinhos. Parecia um disco trancado. Uma simplificação gutural da língua, como se todas as palavras fossem reduzidas a uma única porcaria. O cúmulo foi quando entrei num sushi e os tradicionais “combinados” foram substituídos por COMBOS - será que os proprietárias achavam que estavam sendo moderninhos? Aquilo me convenceu de que o sushi não deveria ser bem feito. Me levantei e fui embora.
Pois, então (mais uma tirada infeliz, mas nunca fui bom de humor mesmo…), nessa Copa estamos passando por um vuvuzela combo. É, mas vai passar.
Fonte:Clicrbs
quarta-feira, 16 de junho de 2010
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