Sarney, Chávez e Ahmadinejad: ojeriza a jornalistas
Sarney mostra face de ditador ao querer cercear imprensa
POLÍTICA DO ‘CORDÃO DE ISOLAMENTO’
A exemplo dos mandatários da Venezuela e do Irã, presidente do Senado – metido em imoralidades diversas – vê na imprensa um inimigo a ser imobilizado e derrubado
POR OSWALDO VIVIANI para o Jornal Pequeno de São Luís - MA
Um jornalista no chão, derrubado por um brutamontes que até agora não se sabe se é um segurança do Senado – pago com dinheiro público – ou um jagunço do coronel José Sarney (PMDB-AP), acusado de imoralidades diversas à frente da Casa do Povo, que por enquanto preside. Essa cena, ocorrida na quarta-feira, 1º, que teve como vítima o repórter Danilo Gentili, do programa humorístico “CQC”, da Band, revelou à opinião pública do país como José Sarney vê a imprensa: um inimigo a ser mantido à distância. Imobilizado e derrubado, se preciso for. Trata-se de uma visão típica de ditadores. A mesma aversão ao jornalismo não atrelado – que não renuncia ao direito de fazer perguntas inconvenientes – é exibida por gente como Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e Mahmoud Ahmadinejad, mandatário do Irã (veja texto em destaque).
‘Dinossauro’ – Não é de hoje que José Sarney é adepto da política de “cordão de isolamento” (aliás, na quinta-feira ele até mandou instalar um no Senado para protegê-lo dos jornalistas) em relação à imprensa, apesar de já ter dado declarações pomposas em defesa da liberdade de expressão.
No final de maio passado, o próprio “CQC” já havia sido proibido por Sarney de trabalhar no Senado. As credenciais dos repórteres do programa foram recolhidas sob a alegação de que a instituição fora “desrespeitada”, ao chamar Sarney de “dinossauro”.
Em seu blog, Marcelo Tas, o âncora da atração, afirmou que a crítica não foi à instituição, mas “ao senador, que está no poder há mais de 50 anos”. “Novamente José Sarney mostra sua verdadeira face de ‘democrata’. Não podemos nem vamos aceitar, em pleno regime democrático, no século 21, sermos ameaçados pelo fantasma da censura”, publicou Tas.
Oligarca ‘democrata’ – Essa faceta autoritária, ou censura mesmo, é bem conhecida pelo Jornal Pequeno, pela Folha do Amapá e pela jornalista amapaense Alcinéa Cavalcante (http://alcinea-cavalcante.blog-spot.com). A mão pesada do “oligarca democrata”, não cansa de tentar atingir esses veículos com dezenas de processos na Justiça – em alguns deles, são exigidas vultosas indenizações, a fim de inviabilizar economicamente seu funcionamento.
Contra o JP, Sarney moveu, em 2008, duas ações civis por “danos morais”, reivindicando mais de R$ 300 mil de indenização. O oligarca considerou atentatórias a sua moral várias matérias nacionais, simplesmente reproduzidas pelo JP, além de artigos assinados e até a carta de um leitor que tentava apartar sua briga com a língua portuguesa. Sarney também fez uma representação penal contra o jornalista Lourival Marques Bogéa, diretor geral do JP, repetindo um procedimento intimidatório que já havia fracassado com o pai de Lourival, José Ribamar Bogéa, em meados dos anos 60. As ações civis correm na Justiça, e a penal, por seu absurdo, deu em nada.
‘Terror judicial’ no Amapá – No Amapá – estado para o qual transferiu seu domicílio eleitoral em 1990, temendo não se eleger senador pelo Maranhão –, José Sarney, demonstrou todo o seu “apego” à imprensa livre nas eleições de 2006.
Nesse ano, para enfrentar o movimento popular “Xô, Sarney!”, que ameaçava defenestrá-lo do Senado e pôr em seu lugar a militante do movimento negro Cristina Almeida (PSB), Sarney usou de toda sua influência na Justiça Eleitoral para fechar blogs e jornais e mandar tirar do ar programas de rádio.
Um dos blogs fechados nesse período de “terror judicial” patrocinado por Sarney no Amapá foi o da jornalista Alcinéa Cavalcante, que até hoje responde a mais de 20 processos no Tribunal Regional Eleitoral do Amapá, todos movidos por Sarney.
A mesma prática foi adotada pelo oligarca para tentar calar outros veículos de comunicação e jornalistas amapaenses. Contra o jornal Folha do Amapá, Sarney moveu mais de 40 ações, pedindo indenizações que ultrapassaram R$ 1 milhão.
Os jornalistas Humberto Moreira e Domiciano Gomes, apresentadores de um programa radiofônico no Amapá foram processados 5 vezes e tiveram o programa retirado do ar.
O veterano jornalista Corrêa Neto, 65 anos, foi outra vítima da Justiça Eleitoral à serviço de Sarney. Além de ser condenado a pagamento de multas astronômicas e publicação de direito de resposta, o programa que ele apresentava numa rádio comunitária foi tirado várias vezes do ar, o que inviabilizou sua sobrevivência.
Obstáculos físicos – O “cordão de isolamento” com o qual José Sarney tenta se apartar da imprensa livre foi instalado no Senado bem antes da quinta-feira passada.
Já em abril, o site Congresso em Foco denunciava que, para se proteger da tempestade de denúncias que desabava sobre o Senado, Sarney estava criando obstáculos físicos para o trabalho dos jornalistas.
Primeiramente, uma parede de vidro apareceu da noite para o dia ao redor do plenário, para isolar os parlamentares. Depois, Sarney ordenou que informações administrativas internas só fossem concedidas de maneira formal, mediante ofício, com prazo para resposta de até cinco dias – algo de difícil assimilação nos casos dos veículos on-line, que publicam notícias em tempo real. Finalmente, até o acesso da imprensa à sala do cafezinho foi limitado.
Para felicidade da Nação, nada disso impediu a imprensa séria de levar à opinião pública o que José Sarney quer, a todo custo, ver escondido debaixo do tapete. Hoje, o “cordão de isolamento” instalado no Senado só cumpre a função de isolar, ainda mais, o próprio oligarca.
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